Embora os critérios diagnósticos vigentes de EM (McDonald 2017) tenham melhorado a sensibilidade e tempo médio para o diagnóstico, eles parecem ser menos específicos. Os achados de imagem se sobrepõem àqueles encontrados em mimetizadores de EM, como anormalidades vasculares (principalmente associadas a doenças de pequenos vasos), enxaqueca, distúrbio do espectro da neuromielite óptica (NMOSD) e vasculites (como por exemplo associada a LES).
Este é um estudo transversal e multicêntrico, realizado pelo MAGNIMS (Magnetic Resonance Imaging in MS), com objetivo de avaliar a sensibilidade e especificidade do sinal da veia central (central vein sign) em estudos com RM de 3 Tesla na diferenciação de EM de outras doenças mimetizadoras. Além disso, foram comparadas diferentes sequências de RM para se obter um protocolo adequado, neste cenário.
O estudo contou com 606 participantes, que apresentavam um dos seguintes diagnósticos: síndrome clínica isolada (CIS), EM remitente-recorrente (EMRR), NMOSD, vasculite por LES, enxaqueca episódica ou doença de pequenos vasos, incluindo pacientes com demência. Foram avaliadas as sequências SWI ou T2*, FLAIR e T2, necessariamente em máquinas de RM de 3 Tesla.
O sinal da veia central (central vein sign) foi demonstrado com alta frequência em pacientes com CIS e EMRR, mas não em pacientes com mimetizadores de EM. Além disso, apresentou maior sensibilidade em sequências T2*/SWI. Veja abaixo um caso de NMOSD (paciente A) e outro de EM (paciente B), com destaque à presença da veia central neste último.
A existência de uma veia central nas lesões de esclerose múltipla é conhecida há mais de um século. Demonstrou-se, por exemplo, que a RM de 7T é capaz de visualizar em grande detalhe uma veia central em lesões de EM, permitindo a diferenciação entre EM e lesões inespecíficas da substância branca, NMOSD ou síndrome de Susac. Muitos estudos confirmaram estes achados em máquinas de 3T, embora este protocolo seja menos sensível.
A conclusão do trabalho é que o sinal da veia central tem alta especificidade para a EM (E = 89%), podendo ser aplicado para apoiar este diagnóstico (ou seja, apresenta elevado valor preditivo positivo). No entanto, sua sensibilidade ainda é moderada (S = 61,9%) em máquinas de 3T. Portanto, a ausência do sinal da veia central não é suficiente para descartar o diagnóstico ou suspeita de EM.
Este estudo sugere a inclusão futura do sinal da veia central nos critérios diagnósticos de EM. Trata-se de uma alternativa pouco invasiva e de baixa morbidade em comparação à avaliação de bandas oligoclonais, por exemplo, que exige punção lombar.
Esse diagnóstico muitas vezes é desafiador. Mas alguns red flags e dicas podem nos ajudar 🙂
Fonte:
Tim Sinnecker et al; for the MAGNIMS Study Group
JAMA Neurology, August 19, 2019
doi:10.1001/jamaneurol.2019.2478