Os espaços perivasculares dilatados no encéfalo representam uma entidade benigna e bem descrita, com aparências típicas nos exames de neuroimagem. A classificação dos espaços perivasculares é baseada em sua relação com os vasos sanguíneos e é dividida em três subtipos:
- Tipo I: circunda as artérias lenticulostriadas e penetra nos núcleos da base via substância perfurada anterior;
- Tipo II: relação com as artérias medulares perfurantes, à medida que atravessam a substância cinzenta das convexidades e se estendem para a substância branca;
- Tipo III: no mesencéfalo, na junção pontomesencefálica ao redor dos ramos penetrantes das artérias colicular e colicular acessória.
Recentemente, um quarto tipo de espaço perivascular dilatado foi descrito, sendo denominado espaço perivascular opercular, em associação com uma alça de um ramo da artéria cerebral média, confinando e recuando o córtex sobrejacente. São tipicamente descritos no lobo temporal anterior, mas, recentemente, foram observados no opérculo frontal. Embora esses espaços sejam mais comumente vistos no lobo temporal anterior, eles foram descritos recentemente no opérculo frontal, e o termo “cistos perivasculares operculares” foi sugerido.
O artigo relata um caso de espaço perivascular opercular no opérculo frontal, detectado na RM de rotina em uma mulher de 19 anos, como achado incidental na pesquisa de lesão estrutural por um quadro de perda de memória e episódios de desorientação e dissociação. As imagens de RM do encéfalo mostraram uma lesão “cística” sem impregnação pelo gadolínio, localizada na substância branca subcortical do giro frontal inferior esquerdo, contígua com um espaço perivascular na sequência T2 de alta resolução e adjacente a uma alça vascular do segmento M3, adjacente ao giro frontal inferior esquerdo.
Embora haja muitos casos publicados de cistos perivasculares do lobo temporal anterior (pelo menos 75 casos na literatura), este relato representa apenas o terceiro caso descrito dessa entidade no opérculo frontal.
Na RM, os espaços perivasculares seguem a intensidade do sinal do LCR em todas as sequências. As sequências T2 de alta resolução, como CISS, FIESTA e SPACE, podem detectar outros espaços perivasculares adjacentes com menores dimensões e um trato contíguo com intensidade de sinal semelhante à do LCR. Diferente dos demais espaços perivasculares, que geralmente não são acompanhados de alteração de sinal perilesional, os espaços perivasculares operculares podem apresentam uma área hiperintensa em T2/FLAIR no parênquima adjacente, que pode resultar de redução da mielina, gliose astrocítica reativa e diminutos espaços perivasculares. Este achado pode mimetizar outras condições como processos neoplásicos, inflamatórios ou infecciosos.
O conhecimento do padrão de imagem dos espaços perviasculares operculares pelo radiologista é importante para se evitar tratamentos desnecessários, principalmente abordagens cirúrgicas, já que representam uma “dont’t touch lesion” e permanecem relativamente estáveis ao longo do tempo.
Fonte:
Page, I.; McArdle, D.J.T.; Gaillard, F.
Neurographics, Maio 2021