Cervical Carotid Plaque MRI: Review of Atherosclerosis Imaging Features and their Histologic Underpinnings

A RM é considerada padrão-ouro para avaliação não invasiva da morfologia e composição de placas das artérias carótidas, permitindo identificar e avaliar múltiplas características das placas, principalmente aquelas relacionadas a vulnerabilidade, além de auxiliar a estratificar o risco, determinar a etiologia do AVC, identificar os candidatos cirúrgicos e endovasculares para procedimentos de revascularização e fornecer informações sobre a patogênese, história natural e composição da doença aterosclerótica carotídea.

O artigo detalha a patogênese e histologia da aterosclerose, analisa o aspecto de imagem esperado de diferentes componentes da placa e descreve como as características de imagem por RM podem estar relacionadas à sintomatologia e prever eventos isquêmicos.

COMO SE FORMAN AS PLACAS ATEROSCLERÓTICAS?

As placas começam com a deposição de cristais de colesterol na íntima do vaso, levando ao espessamento intimal, acúmulo de lipoproteínas e formação de estrias de gordura, mudanças que começam a ocorrer aos 11-12 anos de idade. Ocorre um processo inflamatório, atraindo macrófagos, que absorvem o material lipídico e se tornam células espumosas. A migração das células de músculo liso e a formação extracelular levam ao desenvolvimento do ateroma, uma capa fibrosa, que começa a se formar na 2a ou 3a décadas de vida.

A formação do ateroma normalmente ocorre na direção do lúmem para fora/periferia do vaso, que em conjunto com a dilatação arterial, preservam, inicialmente, o diâmetro luminal. O acúmulo de lipídios leva à necrose celular, eventualmente resultando no núcleo necrótico rico em lipídios centralizado na íntima.

Em alguns casos, ocorrem inflamação e neoangiogênese inter-relacionadas. Os neovasos são maiores e mais irregulares nas placas sintomáticas e são vasos imaturos, mais associados a hemorragia e ruptura intraplaca. Portanto, a neovascularização está relacionada à instabilidade da placa.

A quantidade de neovascularização está associada ao grau de alterações inflamatórias dentro da placa. A atividade inflamatória elevada dentro da placa pode levar à vulnerabilidade e contribuir para a ruptura, provavelmente relacionada a efeitos proteolíticos dos macrófagos e de outras células inflamatórias (secreção de enzimas que impedem a síntese de colágeno e degradam a matriz de colágeno da capa fibrosa). Pode ocorrer adelgaçamento ou ruptura da capa fibrosa, além de hemorragia intraplaca, podendo ambos resultar em trombose.

Classificação da AHA para placas ateroscleróticas – convencional e modificada:

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Os tipos associados a piores desfechos são o tipo VI. As alterações hemorrágicas de fissuras superficiais e a trombose são o que tornam essas lesões instáveis ​​e sujeitas a alterações repentinas e que podem levar à oclusão vascular.

CARACTERÍSTICAS DA PLACA NA RM

A placas iniciais, do tipo I e II, não são essencialmente visíveis na RM, apresentando-se com paredes arteriais quase normais, sem características de placa discerníveis, sendo, portanto, indistinguíveis.

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As placas do tipo III geralmente aparecem como espessamento excêntrico sutil da parede do vaso, com acúmulo de lipídios extracelulares, por vezes visíveis como discreto hipersinal em T1.

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Núcleo Necrótico Rico em Lípides

  • Alteração de sinal localizada e excêntrica ao longo do lúmen
  • Discreto hipersinal em T1
  • Ausência de sinal no MPRAGE
  • Isossinal no TOF
  • Hipo/isossinal em T2
  • Sem impregnação pelo Gd
  • É avascular
  • Ajuda a diferenciar da capa fibrosa com impregnação

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Hemorragia intraplaca

  • Ocorre dentro do núcleo necrótico rico em lipídio,  sobreposta ao material lipídico
    Diferente da trombose, que se estende por um defeito focal da capa fibrosa, causando irregularidade no lúmem vascular
  • O sinal varia conforme a cronicidade:
    < 1 semana: hipersinal T1 e isso/hipossinal em T2 e DP
    1-6 semanas: hipersinal em T1, T2 e PD
    > 6 semanas: hipossinal em T1, T2 e PD
  • Hemorragia recente até 6 semanas
    Hipersinal em T1
    Marcado hipersinal no MPRAGE
    Hipersinal no TOF
    Diferente do núcleo necrótico rico em lipídio, com hipersinal em T1 e hipo/isossinal no MPRAGE e TOF

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Capa Fibrosa

  • Fina faixa entre o lúmem vascular e o núcleo necrótico rico em lipídio
  • Hipossinal em todas as sequências
  • Geralmente com impregnação pelo Gd
  • As capas fibrosas podem ser espessas ou finas e/ou com ruptura (visualização mais difícil)

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Ulceração da placa

  • Implicam uma ruptura prévia da placa e são consideradas o principal marcador de vulnerabilidade
  • Evaginação luminal em lesões ateroscleróticas com ≥ 1 mm de profundidade
  • Mais comunmente nas faces proximais da lesão aterosclerótica e nos segmentos arteriais com maior grau de estenose

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Calcificação de placa

  • Hipossinal em T1, T2, DP e TOF (jet black signal)
  • Blooming signal no SWI

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Inflamação da placa e angiogênese

  • Impregnação pelo Gd intraplaca

RELEVÂNCIA CLÍNICA

Características da placa, sintomas clínicos e eventos isquêmicos 

A maioria das características de vulnerabilidade da placa está associada a sintomas clínicos.

A presença de núcleo necrótico rico em lipídios, o maior tamanho e intensidade de sinal da hemorragia intraplaca, a ruptura e afilamento da capa fibrosa, a ulceração da placa e a inflamação e neoangiogênese estão associados a maior risco de eventos isquêmicos, independentemente do grau de estenose. Das características da placa, a hemorragia intraplaca foi a mais associada a eventos isquêmicos.

Os AVCs criptogênicos representam até um terço dos infartos isquêmicos, tendem a ocorrer em pacientes mais jovens (média de 65 anos) e apresentam risco de recorrência de 4,5% ao ano, apesar da terapia antiplaquetária. A maioria dos AVCs criptogênicos são considerados embólicos, recentemente denominados infartos embólicos de fonte indeterminada (embolic strokes of undetermined source – ESUS): infartos não lacunares sem uma fonte cardioembólica conhecida, < 50% de estenose arterial ou qualquer outra origem etiológica específica. Recentemente, as características de vulnerabilidade da placa têm sido demonstradas como contribuintes substanciais para AVCs criptogênicos. No entanto, o que se sabe atualmente sobre a influência das características vulneráveis ​​específicas no ESUS permanece relativamente escasso. A imagem da placa carotídea pode, portanto, desempenhar um papel crucial na investigação de pacientes com ESUS, especialmente naqueles com aterosclerose não estenótica.

História Natural da Progressão da Placa

Assim como a morfologia histológica da aterosclerose, as características da placa de RM são altamente dinâmicas e podem persistir, progredir ou regredir/resolver ao longo do tempo. Além disso, as características de vulnerabilidade tornam as placas mais instáveis, por exemplo, a presença de hemorragia intraplaca está associada a maior risco de nova hemorragia intraplaca e de ulcerações. As ulcerações não demontraram grandes alterações evolutivas, segundo os estudos em geral, mas uma minoria mostrou regressão ou progressão.

Imagem de placa e tratamento de aterosclerose da carótida cervical

Como o valor prognóstico das características da placa tem se tornado cada vez mais reconhecido, alguns autores defendem que a imagem da placa pode influenciar o tratamento de pacientes assintomáticos e com estenose de baixo grau. Um estudo de pacientes assintomáticos com estenose luminal de 70–89%, usando a presença ou ausência de hemorragia intraplaca para direcionar os pacientes à endarterectomia carotídea ou terapia medicamentosa, mostrou que a RM para o estudo da placa apresentou bom custo-benefício e resultou em maior expectativa de vida e maior número de anos de vida ajustados pela qualidade de vida (QALYs). O Carotid Revascularization Endarterectomy versus Stenting Trial (CREST-2) e Asymptomatic Carotid Surgery Trial (ASCT-2) planejam avaliar imagens de placa como parte de seus estudos e podem oferecer dados prospectivos mais concretos sobre o tratamento de pacientes assintomáticos.

A RM pré-procedimento da morfologia da placa pode orientar cada vez mais as estratégias de intervenção. O implante de stents demonstrou estar associado a riscos significativamente maiores em placas com hemorragia intraplaca. Teoriza-se que a hemorragia intraplaca aumenta sua friabilidade, tornando a lesão mais suscetível a ruptura e embolização nas manobras intraprocedimento. Dessa forma, alguns autores afirmaram que as placas com hemorragia intraplaca devem ser tratadas com endarterectomia carotídea e não com implante de stent.

A imagem da placa pode, ainda, auxiliar na avaliação da resposta ao tratamento. Permite, por exemplo, a avaliação do núcleo necrótico rico em lipídio, que se estabilizou ou regrediu durante o tratamento com estatinas.

Fonte:

J. C. Benson et al

Clinical Neuroradiology, Jan 2021

doi.org/10.1007/s00062-020-00987-y

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