As lesões da mandíbula compreendem um amplo espectro de acometimentos odontogênicos e não odontogênicos. Na imagem, eles podem ser classificados como radiolucentes, mistos ou radiopacos.
Os autores objetivaram discutir os achados de imagem de lesões radiolucentes da mandíbula para auxiliar o radiologista a formular uma abordagem dos diagnósticos diferenciais destas lesões.
Modalidades de imagem
Radiografia
Geralmente é o primeiro exame para investigação de lesão na mandíbula. As radiografias intraorais tem limitação para avaliar lesões maiores que 3 cm, desta forma podemos utilizar radiografias panorâmicas para avaliar acometimentos mais extensos.
Tomografia Computadorizada (TC)
Fornecem detalhes do tamanho da lesão, margens, matriz e relação com o canal alveolar inferior e com os dentes. A administração de contraste e a avaliação das configurações da janela de tecido mole são úteis em infecções e tumores da mandíbula.
Ressonância magnética (RM)
Utilizada principalmente para avaliar componentes de partes moles da lesão, padrão de realce, bem como envolvimento de estruturas extraósseas. Devido à sensibilidade da captação do gadolínio é muito importante para diferenciar componentes sólidos dos císticos. A RM também mostra melhor o envolvimento da medula do que a TC, enquanto a TC é mais útil para o envolvimento cortical e detecção de calcificação.
Lesões radiolucentes acometendo a mandíbula podem ser categorizadas como lesões com bordas bem definidas ou mal definidas com os seguintes subtipos:
Lesões odontogênicas versus não odontogênicas
Lesão com margens bem definidas
Cistos Odontogênicos
Cisto Radicular
Cisto odontogênico mais comum. Geralmente é assintomático e tem menos de 1 cm de tamanho.
A cárie dentária leva à disseminação da infecção para a polpa do dente, resultando na formação de granuloma periapical, que pode se epitelizar formando o cisto radicular.
Achados de imagem
– Cisto bem definido com uma borda esclerótica fina ao redor do ápice radicular de um dente doente.
Cisto Residual
Cisto inflamatório que se apresenta em um local pós-extração.
Achados de imagem
– Cisto bem definido com uma borda esclerótica fina com falta de dente sobrejacente.
Cisto dentígero (cisto folicular)
Lesão cística não inflamatória mais comum da mandíbula. Geralmente é assintomático e se forma como resultado do acúmulo de líquido entre o dente incluso/impactado e o epitélio do folículo dentário que envolve o dente.
As complicações incluem o desenvolvimento de ameloblastoma mural e raramente carcinoma odontogênico.
Achados de imagem
· Cisto unilocular bem definido arredondado a ovalado com margens regulares.
· Envolve a coroa do dente incluso/impactado, geralmente o terceiro molar.
· As raízes do dente se projetam para fora da lesão.
Ceratocisto Odontogênico
Mais frequentemente visto na segunda a quarta décadas de vida. É mais agressivo do que outros cistos odontogênicos, pois mostra brotamento da camada basal e formação de “cistos-filhos” que ficam fora da lesão primária.
Múltiplos ceratocistos odontogênicos são observados na síndrome do nevo basocelular (síndrome de Gorlin-Goltz).
Achados de imagem
· Cisto unilocular ou multilocular bem definido com margens recortadas.
· Expansão anteroposterior característica.
· Se associado a um dente não irrompido, pode envolver todo o dente quando grande, incluindo as raízes.
· Sinal intermediário a alto em T1 e baixo a alto sinal em T2, com restrição de difusão.
· Realce dos septos.
Cistos não odontogênicos
Cisto de Stafne/Cavidade Óssea Estática
É um pseudocisto da mandíbula com localização típica no ângulo da mandíbula, resultado de remodelamento por glândula ou gordura submandibular aberrante.
Achados de imagem
Cisto unilocular no ângulo da mandíbula atrás do terceiro dente molar abaixo do canal alveolar inferior.
Cisto Ósseo Simples
É um pseudocisto sem revestimento epitelial, incomum que é resultado de hemorragia intramedular por trauma que resulta na formação de uma cavidade dentro da mandíbula.
Achados de imagem
· Cisto unilocular que se estende entre as raízes dos dentes adjacentes, sem reabsorção radicular.
· TC e RM podem demonstrar o conteúdo hemático. Não apresenta realce.
· Localização típica na mandíbula posterior.
Cisto do Ducto Nasopalatino
Origina-se do epitélio remanescente do ducto nasopalatino, órgão primitivo do olfato, que geralmente regride na vida fetal. Outros nomes para esse cisto incluem cisto maxilar da linha média, cisto palatino da linha média anterior ou cisto do canal incisivo.
É visto principalmente em homens na quarta e quinta décadas de vida. Embora na maioria assintomática, os pacientes podem apresentar dor e secreção se o cisto for infectado.
Achados de imagem
·Linha média maxilar arredondada a cisto ovoide acima das raízes dos incisivos superiores divergindo as raízes com dentes vitais com lâmina dura preservada.
·Devido a presença da espinha nasal no centro, pode assumir um “formato de coração” em alguns casos.
Fonte: CONTE NETO, Nicolau et al. Nasopalatine duct cyst: a case report within 3 years follow-up. IJD, Int. j. dent. [online]. 2010, vol.9, n.3, pp. 155-159. ISSN 1806-146X.