Os gliomas pediátricos de baixo grau são os tumores cerebrais pediátricos mais comuns, representando aproximadamente 40% de todos os tumores cerebrais pediátricos.
Estudos de perfil molecular identificaram eventos genéticos nesses tipos de tumores envolvendo a via RAS/MAPK. Mais comumente, esses são eventos envolvendo alterações do proto-oncogene BRAF ou da neurofibromatose germinativa 1 (NF1).
Até o momento, não existem recursos de imagem qualitativos que prevejam qualquer uma das alterações moleculares desses tumores com alta sensibilidade ou especificidade.
O sinal do mismatch T2-FLAIR prediz gliomas adultos 1p19q-não codeletados IDH-mutados com alta especificidade. No entanto, nenhum estudo anterior investigou sistematicamente a ocorrência desse sinal em gliomas pediátricos de baixo grau.
O objetivo desse estudo foi avaliar a ocorrência do sinal do mismatch T2-FLAIR em gliomas pediátricos de baixo grau e sua relação com marcadores histopatológicos e moleculares.
COMO FOI FEITO:
Estudo retrospectivo de janeiro de 2001 e agosto de 2018.
Os critérios de inclusão foram:
1) 0–18 anos de idade,
2) a disponibilidade de informações moleculares,
3) a disponibilidade de RM cerebral pré-operatórias com sequências ponderadas em T2 e FLAIR sem artefatos de movimentação.
Tumores da medula espinhal não foram incluídos neste estudo.
O QUE FOI ENCONTRADO:
Os critérios de inclusão foram preenchidos por 349 pacientes (53,6% meninos). A idade média no momento do diagnóstico foi de 8,7 (DP, 4,8) anos (variação de 0,5 a 17,7 anos).
A amostra consistia em astrocitomas pilocíticos ( n = 151), astrocitomas de baixo grau ( n = 66), gangliogliomas ( n = 43), tumores neuroepiteliais disembrioplásticos (DNETs) ( n = 24), astrocitomas difusos ( n = 22 ), astrocitomas pilomixóides ( n = 11), xantoastrocitomas pleomórficos ( n = 7), oligodendrogliomas ( n = 7), tumores glioneuronais ( n = 5), gliomas angiocêntricos ( n = 5), gliomas infantis desmoplásicos ( n = 2), neurocitomas ( n = 2), componentes tumorais mistos ( n = 2), gangliocitoma ( n= 1) e tumor glioneural polimorfo de baixo grau do jovem ( n = 1).
Não houve gliomas 1p/19q não codeletados IDH-mutado.
A fusão KIAA1549-BRAF foi o marcador molecular mais comum ( n = 148).
O sinal do mismatchT2-FLAIR foi observado em 25 de 349 pacientes com gliomas pediátricos de baixo grau. Dezessete pacientes eram meninos (68%). A média de idade foi de 8,3 (DP, 4,8) anos (variação de 1 a 16 anos).
Dos 25 gliomas pediátricos de baixo grau com o sinal do mismatch T2-FLAIR, 9 eram DNETs, 8 eram astrocitomas de baixo grau, 5 eram astrocitomas difusos, 1 era um astrocitoma pilocítico, 1 era um tumor glioneuronal e 1 era um glioma angiocêntrico.
Veja os exemplos abaixo:
Em relação a todos os pacientes revisados, o sinal do mismatch T2-FLAIR foi encontrado em 9 de 24 DNETs (37,5%), 5 de 22 astrocitomas difusos (22,7%), 1 de 5 tumores glioneuronais (20%), 1 de 5 gliomas angiocêntricos (20%), 8 de 66 astrocitomas de baixo grau (12,1%) e 1 de 151 astrocitomas pilocíticos (0,7%).
Notavelmente, nenhum gliomas pediátricos de baixo grau com o sinal do mismatch T2-FLAIR foi BRAF p.V600E-mutado, e pelo menos 23 dos 25 tumores com o sinal do mismatch T2-FLAIR também foram negativos para a fusão KIAA1549-BRAF.
O sinal do mismatch T2-FLAIR foi mais comumente observado em marcadores moleculares raros, incluindo MYB/MYBL1 , MYB-QKI , FGFR1 -TKDD, FGFR1-TACC1 , FGFR4 , IDH1 , GOPC-ROS1 , MET N375S e PDGFB-LRP1.
Cinquenta e seis tumores tinham painéis de teste incompletos. No entanto, as alterações moleculares mais comuns (fusão KIAA1549-BRAF e mutação BRAF p.V600E), além da alteração FGFR1- N546K e mutação de IDH1 foram excluídas em quase todos os tumores. Desses 56 tumores, 11 demonstraram o sinal do mismatch T2-FLAIR.
CONCLUSÃO:
Devido à raridade do sinal do mismatch T2-FLAIR em tipos histológicos e subtipos moleculares de gliomas pediátricos de baixo grau comuns, ele pode servir como um marcador diagnóstico para tipos de gliomas pediátricos de baixo grau infrequentes.
Fonte: M.W. Wagner, L. Nobre, K. Namdar, F. Khalvati, U. Tabori, C. Hawkins and B.B. Ertl-Wagner. American Journal of Neuroradiology June 2023.