Os seios venosos durais apresentam diversas variações anatômicas, e o conhecimento da anatomia normal e das variantes anatômicas é fundamental para não confundirmos com condições patológicas, bem como em avaliações pré-operatórias. O artigo revisa algumas das principais variantes anatômicas dos seios venosos durais.
ANATOMIA DOS SEIOS VENOSOS DURAIS
O sistema venoso intracraniano é formado por: veias cerebrais superficiais, seios venosos durais e sistema venoso profundo.
Os seios venosos durais são circundados por dura-máter e incluem o seio sagital superior (SSS), seio sagital inferior (SSI), seio reto, confluência dos seios (torculo de Herófilo), seios transversos e seios sigmoides.
O sistema venoso profundo drena as estruturas da substância branca e cinzenta profundas e inclui as veias cerebrais internas, as veias basais de Rosenthal e a veia de Galeno.
Os seios petrosos superior e inferior facilitam a drenagem entre os seios venosos durais e os complexos do seio cavernoso. O seio esfenoparietal drena medialmente para o seio cavernoso, é encontrado sob a asa menor do esfenoide e se conecta com um ramo da veia meníngea média e corre em um sulco vascular ao longo do assoalho da fossa craniana média, com contribuições adicionais da órbita, uncus temporal e veias frontais inferiores. O seio occipital é intradural, com localização da linha médica, originando-se da torcula de Herófilo ou do seio transverso medial e drenando para a confluência dos seios marginais, que então drenam para os bulbos jugulares. O seio marginal é encontrado ao longo da borda do forame magno e se comunica anteriormente com o plexo venoso basilar e posteriormente com o seio occipital, drenando, mais comumente, para o seio sigmoide.
VARIANTES ANATÔMICAS DOS SEIOS VENOSOS DURAIS
SEIO SAGITAL SUPERIOR
As variações da extremidade rostral do SSS são classificadas em 4 tipos:
· Tipo 1: SSS rostral totalmente desenvolvido
· Tipo 2: Duplicação do SSS rostral, com hemi-SSS bilateral
· Tipo 3: Hipoplasia completa do SSS rostral, com veias frontais superiores parassagitais bilaterais
· Tipo 4: Hemi-SSS unilateral, com veia frontal superior parassagital contralateral compensatória
A atresia da extremidade rostral é a variante anatômica mais comum do SSS e pode ser secundária à falha ou atraso na formação do segmento rostral do plexo sagital durante o desenvolvimento. A drenagem venosa é compensada por veias frontais superiores parassagitais proeminentes, o que ajuda a distinguir essas variantes anatômicas de trombose venosa dural.
A duplicação do SSS é incomum e pode ser completa ou segmentar. O SSS pode ser septado ou parcialmente duplicado, mais frequentemente na porção posterior do SSS.
SEIO SAGITAL INFERIOR
A ausência congênita do seio sagital inferior é uma variante anatômica comum. O SSI pode ter ponto de origem ou terminação diferentes do convencional, como, por exemplo, a drenagem para o SSS em vez de para o seio reto.
TÓRCULA DE HERÓFILO E SEIO RETO
Há uma variação anatômica considerável da tórcula de Herófilo, e diferentes sistemas de classificação foram propostos.
Bisaria classifica as variantes da tórcula de Herófilo em 3 tipos.
· Tipo 1: SSS drena para um seio transverso e o seio reto drena para o outro seio transverso, sem conexão entre os dois, em circuitos independentes
· Tipo 2: bifurcação precoce do SSS e do seio reto com suas bifurcações se unindo para formar um seio transverso em cada lado
· Tipo 3: “confluência de seios” – inclui diferentes subtipos, variando da clássica tórcula de Herófilo a uma “confluência potencial”, com a presença de um coxim dural, uma partição dural parcial ou completa.
Classificação do padrão de drenagem do SSS para os seios transversos (Fukusumi e cols.):
· Tipo Sc: anatomia clássica com o SSS drenando para uma confluência verdadeira
· Tipo Sd: SSS se dividindo precocemente em membros direito e esquerdo e drenando para o seio transverso do mesmo lado
· Tipo Sr: SSS drenando preferencialmente para o seio transverso direito
· Tipo SI: SSS drenando preferencialmente para o seio transverso esquerdo
Classificação da tórcula de Herófilo (Gökçe e cols.):
· Tipo 1: verdadeira confluência
· Tipo 2: confluência parcial
· Tipo 3: não-confluência
Outras variações raras da tórcula de Herófilo incluem um seio reto duplo que drena para um seio transverso, um SSS que se divide em 3 ramos, um seio transverso que se origina de uma veia tentorial e uma tórcula de Herófilo que recebe drenagem direta de uma veia tentorial.
Variações anatômicas na confluência da veia de Galeno com o seio reto podem ocorrer e apresentam implicações importantes em cirurgias na região pineal.
Padrões de drenagem da veia basal de Rosenthal:
· Tipo 0: a ausência da veia basal de Rosenthal
· Tipo 1: drenando para as veias cerebrais internas
· Tipo 2: drenando na união das veias cerebrais internas
· Tipo 3: drenando na veia de Galeno (tipo mais comum)
· Tipo 4: drenando para o seio reto
SEIOS TRANSVERSOS E SIGMOIDES
A codominância dos seios transversais é a aparência mais frequente dos seios transversos.
Uma variante comum é a assimetria ou dominância unilateral dos seios transversos, sendo que o lado direito é mais comumente o dominante. O SSS, normalmente, drena para o seio transverso dominante e o seio transverso não dominante drena o seio reto.
O seio transverso pode estar congenitamente ausente, e o seio sigmoide ipsilateral frequentemente recebe drenagem diretamente da veia de Labbe.
Os seios sigmoides podem ser assimétricos ou serem unilateralmente ausentes.
A ausência congênita unilateral do seio sigmoide pode ser acompanhada por uma torcula de Herófilo grande.
SEIO OCCIPITAL
Muitos estudos demonstram uma prevalência diminuída do seio occipital com a idade, mais comumente presente em pacientes < 2 anos e ausente em pacientes > 9 anos de idade, sugerindo uma possível involução ao longo do tempo.
Classicamente, o seio occipital é uma estrutura única da linha média, podendo desviar para um lado, mais comumente para a direita, e drenando para a confluência dos seios marginais, que drenam para os bulbos jugulares.
O “seio occipital oblíquo” é uma variante que sai da linha média e drena para o seio sigmoide, e apresenta implicações em cirurgias da fossa craniana posterior.
Os seios occipitais bilaterais são uma variante anatômica associada à duplicação da foice do cerebelo.
SEIO FALCINO
O seio falcino conecta a veia de Galeno com o SSS durante a vida fetal, normalmente, involuindo após o nascimento. Entretanto, pode ser observado em crianças e adultos O seio falcino pode também conectar o seio sagital inferior ao SSS, em vez da veia de Galeno, e pode estar duplicado.
A associação com anomalias congênitas pode ocorrer, como malformação da veia de Galeno, encefalocele parietal ou occipital, ausência de corpo caloso e tentório displásico, bem como estenose ou oclusão de SSS ou seio reto, ou com a ausência do seio reto. No entanto, o seio falcino também foi observado sem quaisquer anomalias congênitas ou oclusão, estenose ou ausência de seios durais, sugerindo duas patogêneses distintas: não involução durante o período fetal (“seio falcino persistente”) ou involução durante o período fetal seguida de recanalização após um evento incitante, como uma trombose venosa.
Fonte:
E. Pauls et al
Neurographics, Julho 2020