As lesões benignas contrastantes do forame magno, caracterizadas por lesões redondas/ovaladas que apresentam hipersinal no FLAIR, e impregnação pós-contraste situada no forame magno posteriores à artéria vertebral intradural, foram inicialmente descritas por McGuinness et al em 2017.
Acreditava-se que as lesões representassem uma variz venosa ou um gânglio/pseudogânglio do nervo C1 ou raízes espinhais do nervo espinhal acessório.
Este é o primeiro caso comprovado por patologia de lesões benignas contrastantes do forame magno.
RELATO DE CASO:
Sexo feminino, 45 ano, que apresentava história de 1 ano de dor ocular bilateral, sem histórico médico significativo.
A ressonância magnética inicial realizada em uma instituição externa mostrou 2 pequenas lesões extramedulares intradurais no forame magno, posteriormente às artérias vertebrais hiperintensas no FLAIR, indetectáveis no T2, sem restrição à difusão e com realce após contraste. O principal diferencial na época era tumor de bainha de nervo periférico.
A paciente foi submetida a uma eletromiografia facial que não demonstrou achados de desnervação, e um PET/CT que não revelou captação anormal do radiofármaco nas lesões do forame magno ou em outras partes do corpo
Após 9 meses, foi realizada nova ressonância magnética em aparelho de 3T com contraste que demostrou discreto aumento das 2 lesões inicialmente visualizadas e evidenciou uma terceira lesão, similar as demais, logo abaixo da lesão direita e fora do FOV no estudo anterior. Todas as 3 lesões adjacentes ao nervo espinhal acessório. A RM com contraste da coluna não mostrou nenhuma lesão adicional.
Dado o crescimento durante um curto período, o diagnóstico diferencial foi amplo e incluiu tumores da bainha do nervo periférico, doença metastática e condições inflamatórias.
A paciente foi submetido à ressecção cirúrgica.
A lesão à esquerda estava próxima à artéria vertebral e seus ramos, mas não se ligava a eles. Estava aderido ao nervo espinhal acessório esquerdo identificado através do monitoramento intraoperatório do nervo. A lesão estava recoberta por uma membrana amarelada sobre um cisto aparente com um componente mais sólido e firme profundamente a esse.
As lesões do lado direito com componentes mistos císticos e sólidos foram desbastadas porque estavam aderidas a radículas de nervos cranianos inferiores, suspeitas de serem o nervo espinhal acessório direito, mas não confirmadas por eletromiografia.
A patologia recebeu um espécime inteiramente composto por tecido aracnoide com um nódulo pequeno, que continha escassas células aracnoides separadas por espessas fibras colágenas. Não havia características histológicas que sugerissem uma neoplasia ou meningioma. Apenas ninhos focalmente pequenos de células meningoteliais com formação de corpos de psamoma focais presentes na membrana aracnoide sobrejacente, um achado comumente presente na aracnoide de adultos, que tende a aumentar com o avanço da idade.
DISCUSSÃO
Essa paciente foi operada antes da publicação do trabalho de McGuinness et al.
Os autores descobriram então que essas lesões são nódulos aracnóideos fibróticos aderentes ao aspecto dorsal do nervo espinhal acessório. Esse nervo é classicamente conhecido por fornecer fibras motoras aos músculos esternocleidomastóideo e trapézio. No entanto, alguns autores sugerem que ele também pode transmitir sinais sensoriais/nociceptivos.
O maior estudo sobre essas lesões do forame magno foi realizado por Kogue et al, neste estudo todas as lesões estavam em contato com o nervo espinhal acessório e ele também demonstrou que em 8,7% dos pacientes essas lesões aumentavam de tamanho com o tempo.
Destaca-se que a aparência oculta na imagem ponderada em T2 ajuda a diferenciar essas lesões da aparência típica de outras lesões, incluindo meningioma, schwannoma, aneurisma e metástase.
Mais trabalhos são necessários para elucidar o verdadeiro processo que leva a origem desses nódulos benignos associados ao nervo espinhal acessório.
Os radiologistas devem estar familiarizados com a aparência típica e a natureza benigna dessas lesões!
Fonte: American Journal of Neuroradiology August 2023.