A angiopatia amilóide cerebral (CAA) é uma condição na qual a proteína β-amilóide (Aβ) se deposita nas paredes arteriais, levando a macro e microhemorragias. A distribuição das microhemorragias (MH) pode apontar para esta causa, com distribuição mais típica nas regiões lobar/cortical ou córtico-subcortical.
Embora a distribuição de Aβ na CAA ocorra na parede do vaso, vários estudos também demonstraram maior Aβ cortical em indivíduos com hemorragia cortical relacionada ao CAA em comparação com aqueles com hemorragia intracerebral não associada ao CAA. Por esta razão, foi proposto que um exame PET amilóide negativo pode ajudar a descartar um diagnóstico de CAA.
Neste estudo, foi testada a associação de microhemorragias e siderose superficial com a carga amilóide (usando PET com florbetapir) em participantes livres de demência e sem histórico de hemorragia intracerebral para explorar a relevância desses achados de imagem.
MÉTODOS
O estudo ARIC (Atherosclerosis Risk in Communities) recrutou indivíduos de 4 comunidades dos EUA. De 2012 a 2014, o braço ARIC-PET recrutou 322 participantes sem demência que fizeram RNM de crânio para realizarem o exame PET florbetapir.
Imagens de RNM foram avaliadas para microhemorragias e siderose superficial; no PET amilóide, a razão do valor de captação cortical padronizada global > 1,2 foi considerada um exame beta-amilóide positivo.
RESULTADO
Um total de 322 indivíduos inscritos no estudo ARIC-PET foram incluídos na amostra; destes, 75 apresentavam microhemorragias (MHs).
Dos participantes com MHs, 45 apresentavam apenas MHs profundos, 15 apresentavam MHs profundos e lobares mistos e 15 apresentavam apenas MHs lobares. Apenas 3 (0,9%) apresentavam siderose superficial.
As prevalências observadas de micro-hemorragias cerebrais foram semelhantes na distribuição entre categorias raciais, embora ligeiramente mais comuns em indivíduos negros.
O grupo estritamente lobar teve a maior proporção de portadores de APOE e4, bem como a maior média de SUVR cortical global (1,42).
Não houve associação entre o número total de MH e o valor SUVR no PET amilóide quando covariáveis demográficas e de risco vascular foram incluídas na análise.
A positividade para Aβ não diferiu significativamente em indivíduos que apresentaram MHs lobares (67%) versus aqueles sem MHs lobares. No entanto, quando um padrão de MH apenas lobar foi considerado (em comparação com todas as outras distribuições), foi observada uma associação significativa na análise univariada: 80% daqueles com um padrão apenas lobar tinham positividade para Aβ versus 50% daqueles com quaisquer outros padrões de MH.
O estudo não encontrou interações significativas entre o padrão CMB e os subgrupos, nem associações significativas dentro da maioria dos subgrupos.
DISCUSSÃO
Neste estudo comunitário de idosos sem demência, padrões de MH subcorticais ou mistos não foram associados a níveis elevados de Aβ cerebral, mas um padrão de MHs lobares isolados ou siderose superficial foi. Além disso, o estudo não encontrou subgrupos específicos nos quais outros padrões de MHs estivessem significativamente associados a Aβ elevado, embora a maioria desses subgrupos fossem pequenos demais para permitir inferências significativas.
Neste estudo, a presença de MHs lobares e siderose superficial, um padrão geralmente relacionado à AAC, foi associada a um maior risco de Aβ cortical no PET com florbetapir. Um estudo recente de autópsia e PET-amilóide demonstrou que a associação entre CAA e PET-amilóide positivo pode ser impulsionada por placas de Aβ concomitantes em vez de Aβ puramente vascular, sugerindo que o PET-amilóide poderia ser um biomarcador adicional para CAA.
Ao comparar as diferenças no risco de deposição de Aβ com base somente na prevalência das MHs cerebrais, não foi encontrado um risco elevado para aqueles com mais de 1 MH, independentemente de sua distribuição, quando comparados com aqueles com apenas 1 MH. Este achado talvez sugira que os níveis corticais de Aβ estão mais relacionados à distribuição do que à densidade dos MHs, de modo que MH apenas lobares ou siderose superficial estão associados a níveis mais elevados de Aβ cortical.
A limitação principal do estudo é relacionada ao uso de dados observacionais e transversais e ao tamanho relativamente pequeno da amostra. Com o tempo, os padrões de MH observados podem mudar ou estar associados a um padrão diferente de Aβ cortical que o estudo não consegue capturar. Da mesma forma, pode haver confusão residual em que os fatores que contribuem para MH ou Aβ cortical global não são bem capturados.
Em resumo, neste estudo com adultos sem demência, o padrão lobar de microhemorragia e também a siderose superficial estão mais fortemente associados ao depósito de Aβ cerebral. Este achado pode ajudar os profissionais a lidar com pacientes que apresentam microhemorragias, mas que não são diagnosticados com CAA, especialmente aqueles que apresentam comprometimento cognitivo leve.