O coiling endovascular é um procedimento bastante eficaz e seguro usado tanto na prevenção de ruptura quanto no tratamento de aneurismas não rotos. No entanto, complicações pós-procedimento ocorrem na minoria dos pacientes. Uma condição benigna e reversível, recentemente descrita, denominada leucoencefalopatia tardia (DL), constitui uma complicação rara de embolização endovascular de aneurismas, caracterizada por hipersinal em T2/FLAIR na substância branca localizada em regiões distantes do coil, com aparecimento semanas pós-procedimento e que reduz ou desaparece em alguns meses. No entanto, sua etiopatogênese é ainda pouco compreendida. Teorias sugerem origem multifatorial, incluindo reação granulomatosa secundária à embolia de corpo estranho proveniente do revestimento dos dispositivos usados, encefalopatia induzida por contraste e reação de hipersensibilidade ao níquel/proteoglicanos do coil. Dessa maneira, este estudo visa investigar associação de características relacionadas ao procedimento de embolização endovascular de aneurismas com o surgimento de DL.
COMO FOI REALIZADO?
Foi realizado estudo retrospectivo de pacientes submetidos à embolização endovascular de aneurisma intracraniano e que apresentavam exames de ressonância magnética do crânio de controle. Para cada paciente foram anotadas informações clínicas (idade, sexo) e relacionadas ao procedimento, sendo elas tipo e número de dispositivos de embolização usados, duração do procedimento e tipo e volume de contraste utilizado.
E OS RESULTADOS?
Dos 1.754 pacientes avaliados, 16 apresentaram DL nos exames de follow-up. Foi encontrada associação estatisticamente significativa entre o surgimento de DL e o maior número de cateteres usados, maior volume de injeção de contraste iodado e maior duração da fluoroscopia, sugerindo maior incidência desta condição em procedimentos com maior grau de complexidade. Não foi encontrada associação com o número de coils ou com o tipo de guia utilizado. Nenhum paciente apresentou positividade nos testes de hipersensibilidade ao níquel/proteoglicanos.
Todos os pacientes neste estudo que desenvolveram DL foram tratados com múltiplos cateteres. Acredita-se que a fricção repetida entre cateteres de pequeno diâmetro, sobretudo em procedimentos complexos, pode promover a soltura do seu revestimento hidrofílico, agindo como fonte embólica e promovendo reação inflamatória granulomatosa.
A encefalopatia induzida pelo contraste iodado tipicamente ocorre após procedimentos endovasculares intracranianos, tanto por neurotoxicidade direta quanto por quebra da barreira hematoencefálica e extravasamento para o tecido cerebral. Neste estudo, uma quantidade superior a 180 mL de contraste iodado foi relacionada a maiores chances de desenvolver a DL.
O reconhecimento da DL, apesar de se tratar de condição rara e benigna, é importante no contexto de pacientes submetidos a procedimentos endovasculares intracranianos, visando manejo adequado destes pacientes.
Fonte:
A. Ikemura, T. Ishibashi, K. Otani, I. Yuki, T. Kodama, I. Kan, N. Kato, and Y. Murayama
AJNR Am J Neuroradiol 2020