As leucoencefalopatias genéticas, apesar de mais conhecidas como uma condição pediátrica, têm sido cada vez mais descritas na vida adulta, com início tardio. As leucoencefalopatias do adulto, geralmente se apresentam com declínio cognitivo e sintomas motores, como distúrbios da marcha, representando um diagnóstico diferencial de doenças neurodegenerativas. Nos exame de imagem, podem apresentar restrição à difusão persistente por longo período de tempo. Este é um achado específico, que tem sido descrito nas leucoencefalopatias do adulto, incluindo:
- Leucoencefalopatia do adulto com esferoides axonais e glia pigmentada (ALSP);
- Leucoencefalopatia por mutações autossômicas recessivas no gene alanil-tRNA sintetase mitocondrial (AARS2-L);
- Doença de inclusão intranuclear neuronal com início na idade adulta (NIID).
O artigo discute os padrões de imagem característicos dessas três entidades. Vamos conferir?
ALSP
Causa: Mutações autossômicas dominantes no gene CSF1R, expresso principalmente na microglia do SNC, resultando em disfunção microglial
Quadro clínico: Mais comum na quinta década de vida (18 a 71 anos). Declínio cognitivo e sintomas motores.
Imagem:
- Hipersinal difuso em T2/FLAIR na substância branca, com predomínio periventricular – pode ser assimétrico
- Hipersinal em T2/FLAIR nos tratos piramidais (em cerca de 50% dos casos)
- Atrofia cerebral e afilamento do corpo caloso acentuados (quase invariavelmente presentes)
- Persistência do cavo septo pelúcido pode estar presente
- Calcificações puntiformes na substância branca profunda (melhor avaliada na TC e SWI)
- DWI: Focos puntiformes persistentes de restrição à difusão na substância branca profunda – podem aumentar e coalescer. Focos no corpo caloso podem estar presentes
AARS2-L
Causa: Mutações autossômicas recessivas no gene alanil-tRNA sintetase mitocondrial (AARS2)
Quadro clínico: Idade média de 26 anos (14 a 44 anos) – mais jovem que na ALSP. Déficits cognitivos invariavelmente presentes, acompanhados por distúrbios motores e da marcha. Insuficiência ovariana em 100% das mulheres
Imagem: Semelhante à ALSP
- Hipersinal em T2/FLAIR na substância branca profunda e periventricular – assimétricas e mais confluentes do que na ALSP
- Envolvimento dos tratos piramidais e núcleos da base mais comum do que na ALSP
- Atrofia cerebral e no corpo caloso menos pronunciadas do que na ALSP
- Supressão do sinal em FLAIR na região periventricular, presumivelmente devido à rarefação da substância branca – não observado na ALSP
- Calcificações na substância branca e anormalidades ventriculares não são características de AARS2-L e devem sugerir ALSP
- DWI: Focos lineares ou puntiformes persistentes de restrição à difusão são em todos os pacientes – a ausência deste achado exclui o diagnóstico de AARS2-L. Lesões no corpo caloso são frequentes
NIID DO ADULTO
Causa: Expansões de repetição CGG no gene NOTCH2NLC. Caracterizada por inclusões intranucleares hialinas eosinofílicas nos sistemas nervosos central e periférico
Quadro clínico:
- Características clínicas e de imagem semelhantes às da síndrome do tremor/ataxia associada ao X frágil (FXTAS)
- NIID esporádica: Tipicamente acima de 50 anos. Demência é o sintoma inicial mais proeminente, seguido por miose, ataxia e alteração da consciência, enquanto fraqueza muscular e distúrbios sensoriais são menos pronunciados.
- NIID familiar: Acima de 40 anos, demência frequente. Abaixo de 40 anos: fraqueza muscular é o sintoma dominante
Imagem:
- Semelhante a FXTAS
- Hipersinal em T2/FLAIR difuso e simétrico na substância branca supratentorial
- Hipersinal em T2/FLAIR bilateral nos pedúnculos cerebelares médios, nos hemisférios cerebelares e na região paravermiana
- DWI: Hipersinal na junção entre substância cinzenta cortical e substância branca subcortical, com aspecto em banda (achado ausente na FXTAS)
- Obs: pode haver impregnação cortical pelo gadolínio e edema, nas áreas de alto sinal na DWI em pacientes mais jovens, com menor duração da doença e maior incidência de cefaleia
Fonte:
Laurens J. L. De Cocker and Mauricio Castillo
Neuroradiology
https://doi.org/10.1007/s00234-020-02543-4