O termo Ecchordosis physaliphora (EP) é tradicionalmente utilizado para descrever um remanescente notocordal que surge de restos ectópicos na sincondrose esfeno-occipital do clivus, geralmente descoberto incidentalmente.
Os autores descrevem um caso de uma paciente que realizou uma RM (Figura 1A e 1B) aos 16 anos por cefaleia, que evidenciou uma lesão pré-pontina de contornos bem definidos apresentando hipersinal em T2 com halo de hipossinal, sem impregnação pós-contraste e medindo 0,5 cm. Na TC (Figura 1C), o componente do clivus apresentava margens escleróticas bem definidas. A lesão foi interpretada como EP.
Figura 1:
Após 4 anos, devido cefaleia recorrente, a paciente realizou nova RM (Figura 2) que evidenciou aumento da lesão com características de sinal similares. Foi optado uma ressecção endoscópica endonasal transclival.
Figura 2:
Após os dados histopatológicos, genéticos e de coloração de fluorescência serem considerados, o diagnóstico de cordoma de baixo grau foi feito.
A notocorda inicia o processo de neurulação, que resulta no desenvolvimento do SNC. A regressão incompleta pode resultar em persistência de remanescentes notocordais isolados, que são um potencial fonte de doença neoplásica. Remanescentes notocordais geralmente permanecem próximos à linha média, com predileção pelo sacrococcígeo região e a sincondrose esfeno-occipital.
As lesões notocordais se enquadram em um espectro de doença de completamente benigno a agressivamente maligno.
O termo tumor benigno de células notocordais (BNCT) engloba tanto lesões extraósseas (EP) bem como restos notocordais intraósseos, sendo um diagnóstico presuntivo já que biópsia excisional é considerada excessivamente invasivo para uma doença benigna.
Histologicamente, os BNCTs exibem camadas de células fisalíforas, caracterizadas por vacúolos intracitoplasmáticos contendo mucina e sem arquitetura lobular, septos fibrosos, necrose e atipia nuclear que caracterizam cordomas. As lesões geralmente são hipocelulares, não possuem mitoses e apresentam baixo índice de proliferação de Ki-67, indicando baixo potencial de crescimento. No entanto, pode haver sobreposição substancial na histologia e imunofenotiopagem do BNCT e cordoma.
Os cordomas são tumores tipicamente localmente invasivos e agressivos que presume-se que surjam de células notocordais persistentes. Infelizmente, cordomas de baixo grau podem ter características de imagem que se sobrepõem à aparência de imagem clássica da BNCT.
A diferenciação de imagem depende de imagem sequencial, com BNCT permanecendo estável indefinidamente e cordoma de baixo grau aumentando lentamente. A repetição da imagem, começando em um intervalo de 6 meses, é recomendada mesmo para lesões que parecem completamente benignas na RM.
Considerações para biópsia excisional de lesões notocordais de aparência benigna:
- Tamanho do tumor: > 0,3 cm
- Margens tumorais: invasão local
- Taxa de crescimento: qualquer crescimento apreciável na imagem de RM
- Radiologia: erosão óssea, realce
- Idade do paciente: <30 anos
- Candidatura cirúrgica: ausência de comorbidades
- Sintomas: dor de cabeça atribuível à base central do crânio; neuropatia craniana
- Preferência do paciente.
As características histológicas dessas entidades se sobrepõem e podem ser subjetivas em casos limítrofes.
Os autores sugerem que os radiologistas abandonem o termo potencialmente enganoso Ecchordosis Physaliphora, e utilizem o termo Lesão notocordal de aparência benigna, um termo descritivo mais preciso que não faz suposições indevidas sobre o comportamento clínico de lesões descobertas incidentalmente no clivus central e na base do crânio.
Fonte American Journal of Neuroradiology July 2023