Vamos revisar os tipos de desordens desmielinizantes fulminantes do SNC?
LESÕES DESMIELINIZANTES TUMEFATIVAS
Por definição, são lesões desmielinizantes maiores que 2,0 cm.
Mais comuns em adultos (segunda/terceira década de vida), e em pacientes do sexo feminino.
Maior risco de aparecimento em pacientes com esclerose múltipla (EM) em terapia com natalizumab e fingolimod.
Em mais de 50% dos pacientes, constitui a forma de apresentação inicial da doença desmielinizante, convertendo à EM em cerca de 50 a 75% dos casos. Cursos monofásicos são possíveis, mas menos comuns.
A apresentação clínica pode seguir curso agudo ou subagudo, com sintomas relacionados ao efeito de massa e encefalopatia.
Imagem:
- Lesão única ou múltipla, usualmente localizadas na substância branca supratentorial, com mínimo edema e efeito de massa associados.
- Hipodensa na TC.Hiperintensa em T2 e FLAIR e hipointensa em T1.
- Realce anelar incompleto! A margem “aberta” apresenta orientação cortical. Lembre-se! O realce representa atividade do processo desmielinizante (quebra de barreira hematoencefálica) que é voltado para a mielina, abundante na substância branca! A desmielinização “pára” quando alcança o córtex, neste cenário.
- Restrição periférica à difusão das moléculas de água (diferente do AVC, que costuma envolver toda a área acometida!).
- Espectroscopia de prótons por RM: aumento da relação Cho/Cr (sim, pode haver hipercelularidade pela inflamação!), queda da relação NAA/Cr, aumento dos picos de glutamina/glutamato (bom para diferenciar de neoplasias gliais, que não apresentam este pico), pico de lipídio/lactato.
- Perfusão por RM é fria!
ESCLEROSE CONCÊNTRICA DE BALÓ
Desorden desmielinizante rara, mais comum em mulheres asiáticas, nas segunda e terceira décadas de vida.
Usualmente monofásica!
Na maioria dos casos é uma doença benigna e autolimitada, com bom prognóstico se prontamente identificada e tratada. Menos comumente, pode seguir curso de ataques duradouros, por semanas a meses, podendo resultar em sequelas debilitantes ou até mesmo óbito.
O cenário clínico pode mimetizar o de uma neoplasia ou o do AVC.
Pode associar-se à EM, ADEM, NMOSD, LEMP e CADASIL!
Imagem:
- Envolve a substância branca subcortical, poupando fibras em “U”. Raramente acomete gânglios da base, ponte e cerebelo.
- Lesão única ou múltipla.
- Imagem clássica em “casca de cebola”, com zonas alternadas de hipersinal e hipossinal em T2, refletindo áreas alternadas de desmielinização e relativa preservação, respectivamente. Da mesma maneira, a impregnação pelo contraste pode ocorrer “em camadas”.
DOENÇA DE SCHILDER
Doença desmielinizante aguda ou subaguda, que acomete principalmente crianças, sem predileção de gênero.
Usualmente monofásica.
Resposta dramática à corticoterapia.
Quadro clínico atípico para EM: cefaleia severa, vertigem , epilepsia, sintomas visuais, hipertensão intracraniana.
Critérios diagnósticos: 1 ou 2 placas grandes simétricas ou assimétricas (pelo menos 2–3 cm) no centro semioval; nenhuma outra lesão detectada clínica ou radiologicamente, ausência de anormalidades do sistema nervoso periférico, função adrenal normal e detecção de ácidos graxos séricos de cadeia muito longa.
Imagem:
- Placas desmielinizantes envolvendo de forma simétrica ou assimétrica os centros semiovais, com mínimo efeito de massa.
- Hiperintensa T2, hipointensa T1, pode haver restrição periférica à difusão das moléculas de água.
- Realce (fase aguda): usualmente anelar incompleto.
- Espectroscopia por RM: aumento de Cho, queda de NAA, picos aumentados de glutamato e lactato.
- Perfusão por RM é fria!
DOENÇA DE MARBURG
Doença rara, letal, que ocorre predominantemente em adultos jovens (terceira década).
Curso progressivo rápido, levando a óbito em semanas a meses após o início dos sintomas.
São lesões mais destrutivas e disseminadas que aquelas da EM.
Imagem:
- Múltiplas lesões de variados tamanhos, disseminadas pela substância branca de ambos os hemisférios cerebrais e infratentorial, podendo coalescer e formar grandes placas, associadas a edema perilesional.
- Diferentes padrões de impregnação podem ser vistos: nodular, anelar, anelar incompleto.
- Perfusão fria.
Fonte:
Razek et al
J Comput Assist Tomogr 2020