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Pacientes com COVID-19 tipicamente se apresentam com febre e doença respiratória. No entanto, há poucas informações relacionadas às suas manifestações neurológicas. Este artigo mostra o primeiro caso de COVID-19 inicialmente se apresentando com síndrome de Guillain-Barré.
Vamos ao caso?
Trata-se do caso de uma mulher de 61 anos que apresentou perda de força nos membros inferiores e fadiga severa, após 4 dias do seu retorno de viagem a Wuhan, China. Os exames laboratoriais demonstraram linfocitopenia e trombocitopenia; líquor evidenciou contagem de células normais e hiperproteinorraquia. Foi diagnosticada com Síndrome de Guillain-Barré e tratada com imunoglobulina.
No oitavo dia, desenvolveu tosse seca e febre, bem como opacidades pulmonares em vidro fosco à tomografia de tórax. O swab orofaríngeo foi positivo para SARS-CoV-2. Foi tratada clinicamente e houve melhora do quadro clínico pulmonar e neurológico. Dois parentes que tiveram contato com a mesma durante a internação também testaram positivo para SARS-CoV-2 posteriormente.
Os autores discutem que as anormalidades laboratoriais no quadro clínico inicial (linfocitopenia e trombocitopenia), que são consistentes com as características clínicas de pacientes com COVID-19, indicam a presença desta infecção já na admissão. Considerando a evolução temporal, eles acreditam que a infecção pode ter sido responsável pelo desenvolvimento do Guillain-Barré, sugerindo, neste caso, um perfil parainfeccioso e não pós-infeccioso clássico (como com Zika-virus).
Eles discutem que a maior limitação deste caso foi a ausência de teste microbiológico para COVID à admissão da paciente. Considerando que a paciente desenvolveu febre e sintomas respiratórios 07 dias após os sintomas neurológicos, é prudente considerar também a explicação alternativa de que a paciente desenvolveu coincidentemente a síndrome de Guillain-Barré, por causa desconhecida, e adquiriu a infecção durante a internação (origem nosocomial). Entretanto, não havia relato de contatos ou casos de COVID-19 no hospital durante a internação.
Deste modo, este relato sugere uma possível associação entre a síndrome de Guillain-Barré e a infecção por SARS-CoV-2, sendo necessário mais casos com dados epidemiológicos para dar maior suporte a esta relação causal.
Fonte:
Hua Zhao, Dingding Shen, Haiyan Zhou, Jun Liu, ShengChen.
The Lancet (2020). https://doi.org/10.1016/S1474-4422(20)30109-5