Pacientes com síndrome da neve visual (SNV) apresentam um distúrbio visual contínuo que inclui sensação de neve visual, palinopsia (inabilidade de suprimir imagens que acabaram de ser vistas), fenômenos entópicos (como moscas volantes e campos azuis entópicos), fotofobia e alteração da visão noturna. A fisiopatologia é pouco conhecida, tendo-se observado algumas comorbidade associadas, como migrânea, desordens do processamento sensorial, sugerindo possível alteração no córtex de associação visual. O tratamento é limitado. Além disso muitos pacientes apresentam sintomas não visuais associados, como zumbido, alteração da concentração, irritabilidade e letargia, sugerindo alterações adicionais no córtex auditivos e no sistema límbico.
Este trabalho visa aprimorar o entendimento sobre a SNV, explorando áreas cerebrais que diferem na estrutura e/ou função comparativamente a um grupo controle. Além disso foram investigados o metabolismo cerebral e os achados estruturas cerebrais nas áreas afetadas.
COMO FOI REALIZADO?
Foram incluídos 20 pacientes de um centro terciário de enxaqueca, que tinham sintomas de neve visual (branca ou preta) – dinâmica, contínua, pequenos pontos difusos no campo de visão durando por mais de 3 meses, com pelo menos 3 sintomas visuais adicionais. Também foram incluídos 20 pacientes controle. Foram realizados exames de RM T1 SPGR em 3 Teslas, além de PET com FDG. A RM foi corregistrada com o PET nos grupos controle e dos pacientes com SNV.
E O QUE ENCONTRARAM?
A maioria dos pacientes do grupo com SNV eram mulheres, média de 31 anos, 80% com antecedente de migrânea, 80% com distúrbios de concentração, 55% com irritabilidade, 50% com zumbido e 40% com letargia.
PET-FDG demonstrou hipermetabolismo no giro lingual direito. RM com técnica de voxel based morphometry identificou aumento da substância cinzenta adjacente a junção dos giros lingual e fusiforme. Houve também hipometabolismo ao PET no giro temporal superior e lóbulo parietal inferior esquerdo, sem alterações estruturais correspondentes no volume da substância cinzenta.
A SNV é uma condição debilitante com sintomas visuais e não visuais. Os achados de hipermetabolismo e aumento do volume cortical no córtex visual extra-estriatal (junção dos giros lingual e fusiforme) é consistente com outros trabalhos já publicados, confirmando a importância desta região para a SNV. Esta mesma região já foi relacionada a percepção de cores, faces e ao reconhecimento de formas – sendo uma área complexa relacionada ao processamento visual.
A ocorrência da palinopsia pode estar associada a alterações occipito-parietais. O hipometabolismo no lóbulo parietal inferior achado neste estudo pode ter correlação com este sintoma. A ocorrência de palinacusia (percepção prolongada de sons que acabaram de ser escutados) também está associada a lesões nessa região.
Alterações metabólicas e no volume da substância cinzenta foram observados no lobo temporal, sistema límbico e lobo parietal, demonstrando que a SNV tem um acometimento além do sistema visual. A exemplo do zumbido, que ocorreu em cerca de 50% dos pacientes, notando-se correspondência pela imagem com hipometabolismo e redução do volume de substância cinzenta no giro temporal superior. Assim como dos sintomas psiquiátricos/psicosomáticos associados e a correspondência de alteração no sistema límbico.
Em pacientes com migrânea crônica, alguns autores demonstraram redução do volume da substância cinzenta no giro temporal médio e no córtex visual associativo, notando-se como achado adicional alterações semelhantes no córtex do cíngulo anterior em pacientes com uso crônico de medicações.
CONCLUINDO…
Os autores concluem que os achados funcionais e estruturais dos pacientes com SNV sugerem um envolvimento do córtex visual associativo em detrimento ao primário, além de territórios relacionados à audição, distúrbios emocionais e cognitivos, sugerindo a necessidade de um tratamento multimodal para esses pacientes.
Fonte:
Schankin CJ, Maniyar FH, Chou DE et al.
Brain April 2020.