A cefaleia neralgiforme de curta duração unilateral com hiperemia conjuntival e lacrimejamento (CNCDU) e a cefaleia neralgiforme de curta duração unilateral com sintomas autonômicos (CNCDSA) são consideradas condições clínicas diferentes dentro do grupo das cefaleias trigemino-autonômicas, que apresenta, episódios moderados a severos, unilaterais, com dor trigeminal associada com sintomas autonômicas ipsilaterais. A dor dura de 1 a 600s; espontaneamente ou desencadeada por um estímulo cutâneo ou intraoral ipsilateral, ocorrendo pelo menos 1x/dia. Um estudo recente mostrou que CNCDU e CNCDSA não apresentam diferença clínica, podendo corresponder a uma mesma condição.
OBJETIVO
Este trabalho visou explorar a contribuição do contato neurovascular (CNV) na CNCDU e CNCDSA, avaliando a presença, grau, tipo de vaso e localização do contato vascular nestes pacientes. Além disso, houve uma comparação por RM do CNV entre os dois grupos para verificar se havia diferença entre os mesmos.
COMO FOI FEITO
Os pacientes incluídos foram diagnosticados de acordo com a segunda edição do International Classification of Headache Disorders (ICHD-2) e a versão beta do ICHD-3. Foram realizados exames em aparelho de 1.5 e 3T, com sequências FIESTA, CISS ou SPACE conforme o aparelho, além disso foram feitas sequência angio-TOF para confirmar a localização das artérias ou veias cerebelares envolvidas no contato com o segmento cisternal do nervo trigêmeo. Foi avaliada a concordância interobservador pela medida do K-score.
O nervo trigêmeo ipsilateral à dor foi definido como sintomático e o contralateral como assintomático. O CNV foi definido pela ausência de LCR entre a estrutura vascular e o nervo. Os locais de CNV foram divididos em três segmentos (proximal, médio e distal), se mais de um local tinha contato foi definido como misto. O grau de CNV foi graduado como com distorção ou atrofia ou sem alteração morfológica (apenas contato). Além disso, foi observado se o contato era venoso ou arterial e se o contato era referente aos aspectos superior, lateral, medial ou inferior do nervo avaliado.
O QUE FOI OBSERVADO
Foram avaliados 159 pacientes (50,3% CDCDU e 49,7% CNCDSA). Predominantemente em mulheres.
Contato neurovascular nos lados sintomáticos e assintomáticos: 56,6% dos pacientes tiveram sintomas unilaterais do lado direito e 39,6% do lado esquerdo. A prevalência de CNV nos casos sintomáticos foi maior que nos assintomáticos. Além disso, alterações morfológicas foram consideravelmente mais prevalentes nos lados sintomáticos, comparados com os assintomáticos. Houve uma maior presença de contato arterial nos casos sintomáticos. O contato proximal também foi mais visto nos casos sintomáticos.
Contato neurovascular na CDCDU: contato neurovascular severo foi consideravelmente mais prevalente em casos sintomáticos. A presença de alterações morfológicas e de contato arterial foram considerados como preditores de casos sintomáticos. A localização proximal também foi vista como sendo associada aos casos sintomáticos.
Contato neurovascular na CNCDSA: Dentre os pacientes deste grupo houve uma proporção maior de CNV nos pacientes sintomáticos, sendo a presença de alterações morfológicas mais associada a sintomas.
Contato neurovascular em CDCDU x CNCDSA: Não houve diferença estatísticas em os grupos quando a presença de CNV e alterações morfológicas em pacientes sintomáticos.
A presença de CNV com alteração morfológica foi definida como preditora radiológica de casos sintomáticos. A maioria dos casos sintomáticos teve CNV no aspecto superior e superomedial do nervo nos casos de sintomas de V1; e inferior nos casos de V3.
CONCLUINDO…
Os autores concluem que CNV é altamente prevalente nos lados sintomáticos nas duas condições avalidas, sobretudo nos casos com alteração morfológica. Além disso os autores sugerem que as duas condições podem na verdade ser uma patologia única, sem distinção clínica e por imagem.
Fonte:
Giorgio Lambru, Khadija Rantell,Emer O’Connor, Andrew Levy,Indran Davagnanam,Ludvic Zrinzo and Manjit Matharu
BRAIN 2020: 143; 3619–3628