Uma “artéria cerebral posterior fetal verdadeira” é uma variante anatômica extremamente rara do sistema vascular cerebral na qual 2 artérias cerebrais posteriores independentes estão presentes, sendo que uma surge de uma grande artéria coroidea anterior primitiva (AChA) persistente e uma outra surge da maneira usual.
Classicamente, os humanos adultos possuem artérias cerebrais posteriores (ACPs) que se originam na artéria basilar. A variante anatômica ACP fetal tem seu segmento distal surgindo como um ramo da artéria carótida interna (ACI). ACPs fetais foram relatadas em 11-46% dos diagnósticos por imagem, incluindo angiografia.
Existem diferentes variantes da ACP fetal e as mais comuns incluem a ACP fetal parcial (segmento P1 hipoplásico conectado à artéria basilar) e ACP fetal total ou completa (segmento P1 não visualizado nos exames de imagem). Há uma terceira variante extremamente rara, conhecida como ACP fetal verdadeira, que consiste em duas artérias cerebrais posteriores independentes, sendo que uma surge de uma grande AChA primitiva persistente e outra surge da maneira usual. A ACP fetal verdadeira é denominada por alguns autores como artéria coroidea anterior hiperplásica.
Esta publicação relata um caso de ACP fetal verdadeira em uma mulher jovem de 28 anos com quadro de cefaleia, cujas imagens de RM e ARM do encéfalo mostraram flow voids anômalos adjacentes ao lobo temporal medial direito e foram inicialmente interpretadas como uma malformação arteriovenosa cerebral ou fístula arteriovenosa dural. O estudo de arteriografia da ACI direita mostrou opacificação normal da ACI intracraniana direita intracraniana, com discreto estreitamento do segmento supraclinóideo, e foram caracterizados, proximalmente ao terminal carotídeo, dois vasos do ramo dorsal com duplicações da ACP direita, um deles surgindo na localização esperada da AChA direita, consistente com ACP fetal verdadeira. A arteriografia vertebral esquerda mostrou uma origem hipoplásica de uma ACP direita duplicada. Não havia malformações arteriovenosas, fístulas arteriovenosas durais ou aneurismas. Nenhuma intervenção foi necessária e a paciente recebeu tratamento para enxaqueca.
A ACP fetal verdadeira é uma variante extremamente rara que se acredita ser o resultado de um canal anastomótico persistente da ACI para a AChA e hipoplasia do segmento da artéria comunicante posterior para ACP imediatamente proximal à anastomose persistente. A presença de vasos incomuns pode ser confundida com uma malformação vascular em imagens de RM, como no caso descrito. O conhecimento dessa entidade é importante para que o diagnóstico seja estabelecido, a partir da confirmação angiográfica. O diagnóstico correto é crucial pois esta variante não deve ser embolizada, uma vez que participa do suprimento das estruturas cerebrais posteriores.
Fonte:
EL Perez; A. Wang; P. Meyers
Neurographics, Abril 2020